Sempre fui apaixonada pela história de Romeu e Julieta, mesmo sabendo que ela pode não ter acontecido (ainda tenho esperanças) e mesmo desejando um final diferente para ela. Histórias como essa, de tão ricas e fascinantes, acabam se tornando lendas, deixando aquela dúvida gostosa se aconteceram ou não.
Essa história, imortalizada por Shakespeare, se sobressaiu tanto que foi responsável pela construção das memórias e da identidade de toda uma cidade, a charmosa Verona, na Itália, que tive a honra de conhecer.
Há indícios históricos que apontam a existência, no século XIV, das famílias Montecchi e Cappelletti, que brigavam pelo poder no comércio da região. Dante Alighieri, que morava em Verona na época, registrou essas desavenças em A Divina Comédia.
Nessa cidade, existe a casa da Julieta, a mansão onde a família Capuleto teria morado, com a famosa sacada, onde ela declamava seus versos a Romeu e onde ele escalava para encontrá-la.
Na casa, podemos ver as roupas usadas no filme, a cama da Julieta, a penteadeira onde ela se entretinha com seus longos e lisos cabelos negros, entre tantos outros objetos que nos transportam para o filme, para a história e para aquele amor que desejamos, lá no fundo, que fosse real.
Essas histórias existem e se tornam lendas porque precisamos acreditar em algo que não vai embora com o tempo, no eterno, no “pra sempre”, em Romeu e Julieta e em outras histórias que nos despertam a coragem de ir atrás dos sonhos, lutar por eles, nem que seja a última coisa a fazer na vida. E não estou falando só de amor!
Sei que essa lenda pode parecer exagerada hoje, em um tempo que nos permite tantas possibilidades de comunicação, mas que, ironicamente, nos limita a ter contatos verdadeiros, olho no olho.
Hoje, um amor desses chega a ser surreal. Mesmo assim, essa história está longe de acabar. Romeu e Julieta, mesmo tendo sido escrita entre 1591 e 1595, segue sendo uma história atemporal, forte e linda de viver ou de, pelo menos, imaginar.
As lendas são mais do que histórias criadas pela imaginação e talento de escritores venerados, como Shakespeare. Elas constroem valores sociais e individuais, ditam comportamentos, criam sonhos e crenças que se perpetuam por séculos.
Mas as lendas também decepcionam à medida que colocam em dúvida o que foi real e o que foi inventado/criado. Por exemplo, quando fui com meu marido a Verona, ao se deparar com a história de Romeu e Julieta em cada cantinho da cidade, ele imaginou que tivesse acontecido na vida real. Não posso descrever a decepção que ele demonstrou quando revelei a “verdade”. Foi como contar a uma criança que o Papai Noel não existe.
Isso tudo porque, estando nessa cidade em que tudo gira em torno de Romeu e Julieta, é difícil acreditar que se trata de uma lenda e não de fatos reais, porque é tudo muito concreto, entende?
Inspirada em tudo isso, confesso que acredito em lendas, nessas histórias que me dizem que o “pra sempre” nunca acaba, que me fazem acreditar na persistência, não só de um sentimento, mas de um objetivo de vida.
Elas são o meu combustível para as horas em que a realidade e a atualidade tornam-se duras demais. Precisamos colocar uma pitada de sonhos e lendas nessa vida tão realista que levamos, não acha?
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